Filmes
O que pretendo com os textos dessa seção do site é oferecer aos leitores uma oportunidade de enxergar os filmes não só como uma representação do tempo, mas ir além disso, procurando demonstrar que neles, além de sua mera exposição, as noções de tempo e temporalidade são problematizadas. Por isso, essas obras são potenciais meios para desenvolver o raciocínio histórico, já que este depende substancialmente da forma como operamos as categorias temporais. Por exemplo, como percebemos alteridades e permanências, sucessividades e simultaneidades presentes em uma narrativa? Muitas vezes é a dificuldade de mobilizar esses artifícios narrativos o que atrapalha a compreensão histórica, sem falar que tal defasagem pode, e provavelmente faz, com que o ensino de história seja visto como algo relacionado ao passado.
Embora eu vá lançar mão de uma descrição dos filmes, no sentido de que é necessário que haja uma compreensão do seu enredo, de sua história, e de aspectos que envolvem a sua narratividade, a minha intenção é que, aqueles que se disporem a ler os textos, possam visualizá-los como meios para se construir uma compreensão sobre o tempo e suas categorias. Dessa forma, como se trata de um site educativo, algumas cenas precisarão ser descritas para que se possa perceber a aplicabilidade da obra dentro de um contexto pedagógico pré-estabelecido. Advirto, portanto, de que em algumas passagens, será necessário pormenorizar algumas sequências, e até mesmo desfechos. Entretanto, faz parte do trabalho a partir do uso de outras linguagens, ter acesso a essa experiência antes dos alunos, de modo que, para se usar o filme em sala de aula, é necessário que se estude antes, não só como usá-lo, mas ele mesmo, como um texto que precisa ser pensado, e até mesmo desconstruído.
Imagino, mesmo podendo estar muito enganado, que a maioria dos leitores do site serão professores de História em busca de ideias ou sugestões de um material audiovisual para trabalhar os conceitos de tempo histórico em sala de aula. Porém, não quero afastar o público em geral, interessado em História e/ou cinema. Penso que a leitura dos ensaios podem ser momentos de reflexão histórica, por que não? Sendo assim, na maioria das vezes, irei deslocar para o final dos textos, em uma pequena seção adicional, algumas orientações de onde o profissional que lida com este componente curricular em sala de aula, possa partir para a utilização de cada um dos filmes. Porém, acredito sinceramente que no decorrer da própria leitura, possa-se se fazer essas inferências.
Na verdade, acredito que respeitar as iniciativas dos professores é uma das formas mais férteis de se construir uma aprendizagem escolar significativa, pois quem está junto aos alunos sabe exatamente as suas necessidades mais prementes, os caminhos que precisa trilhar para conduzir suas aulas. Porém, muitas vezes, as experiências desenvolvidas por outros professores podem ajudar a repensar ou mesmo destravar algum aspecto que envolve o trabalho docente, já que isoladamente acabamos por não dar conta. E no que se refere a utilização do filme no ensino de história, muitos trabalhos relatam problemas sérios em relação a insuficientes e/ou problemáticas formas de fazer uso desse recurso, que, em geral, serve a uma versão com imagens daquilo que o material didático dos alunos apresenta.
Portanto, pensando na necessidade da apropriação das noções de tempo e temporalidade nas aulas de História da Educação Básica, mas evitando propor metodologias ou encaminhamentos padronizados, o que pretendo com os textos é mostrar como os filmes não só mobilizam experiências do tempo, mas representam distintas formas de temporalidade. São suportes que podem ser utilizados em sala de aula, permitindo abordar a articulação dessas noções aos objetivos da aprendizagem histórica, no sentido de dar um melhor uso aos conteúdos. Questões como: de que maneira passado, presente e futuro são mobilizados no filme? Como a temporalidade é discutida no roteiro? E como é possível educar nossa compreensão histórica a partir daquilo que é no filme exposto como argumentação? – serão frequentemente trazidas à tona nas postagens. A ideia central dos textos será, nesse caso, ao lidar com a competência narrativa a partir de nossa consciência de tempo, produzir uma afetação em nosso sentido de historicidade, instigando-nos a pensar historicamente.
Espero que, no caso de meus colegas professores, em cada um desses filmes sobre os quais vou escrever, esteja uma semente para instigar uma possibilidade didático-pedagógica; e para o público que não mais frequenta a sala de aula, eles sejam inspiração para repensar o conhecimento histórico, percebendo sua utilidade como instrumento para lidar melhor com as várias narrativas que se apresentam diante de nós. Para os cinéfilos e demais interessados por filmes que frequentarem esse site, desejo que ele possa contribuir de alguma forma para que vocês usufruam ainda mais dessa arte que tanto amamos, e com a qual sempre aprendemos.
Bem, por mais que me alongue, nunca comtemplarei tudo aquilo que aqui desejo escrever. É melhor que os comentários sobre os filmes falem por si. Gosto muito de uma frase que diz: “Tem coisas que só se explicam a quem já entende”. Deixando de lado o caráter restritivo desse pensamento, não desejo que os aqui apareçam, pensem como eu, mas reconheçam que estamos juntos na batalha diária em busca do conhecimento, mas de um conhecimento que nos permita pensar, questionar, e estar constantemente nos desafiando a ir além. Para mim, e espero, para vocês, os filmes sempre permitirão isso.
O autor
Josemar de Medeiros
Caro leitor, meu nome é Josemar de Medeiros Cruz. Sou professor de História da rede pública de ensino do Estado do Ceará e também integro o quadro docente da Secretária de Educação do município de Brejo Santo. Coordeno o projeto História & Cinema há mais de dez anos, e além deste espaço, escrevo também para os blogs CineHistória e Chá com cinema.