parallax background
 



Enxergar com outros olhos: o nascimento do grupo de estudos

Trabalhar com filmes em sala de aula é desafiador por diversos motivos. Entre eles, alguns obstáculos. Como é tradicionalmente visto como meio de entretenimento, alimentou-se em torno do cinema a ideia de que ele oferecia um indesejado contraponto aos convencionais instrumentos de aquisição de conhecimentos, como os livros, com os quais se poderia aprender de maneira mais segura e aprofundada. Dessa forma, criou-se uma hierarquia de suportes de aprendizagem, que certamente não foi vencida até hoje. Ao filme cabe um papel de figurante nessa história. Recorrendo-se a ele em casos como a necessidade de “ilustrar” algo que está sendo dito, ou “atrair” a atenção devido ao impacto das imagens.



Combater e superar essa visão simplista e limitadora já tornaria o esforço de pesquisar o uso do cinema na escola recompensador. Todavia, penso que a missão é muito mais árdua e instigante que encarar essa discussão. E convenhamos, em tempos de inserção de muitas outras formas de usar o aparelhamento midiático no processo de ensino-aprendizagem, o cinema já nem está mais fazendo o papel de elemento estranho. Salve companheiros dos jogos, HQ’s, entre outros! Bem-vindos à batalha. Enquadrados na categoria de “outras linguagens”, aos poucos essas “novidades” vão se incorporando e preenchendo seus espaços nesse universo de múltiplas abordagens, como deve ser o ensino de História.

Porém, o que torna o desejo de fazer uso de filmes em sala de aula mais desafiador é poder dar conta de todo o seu potencial. O processo de “fabricação” de um filme envolve basicamente a justaposição de signos. Cada plano, cena ou sequência é constituída para produzir no espectador muito mais que uma recepção passiva, ao contrário, nos forçam a produzir um significado, a transformar as pistas oferecidas pelo enredo numa história. Podemos nos divertir imensamente fazendo isso sozinho. E até aprender bastante com uma experiência meramente introspectiva diante de um filme. Não obstante, o compartilhamento dessas percepções certamente tem o potencial de promover a ampliação dessa experiência.

É comum entre profissionais que trabalham com filmes na sala de aula, haver um debate casual sobre eles. Seja na sala de professores ou em redes sociais, trocamos sugestões, falamos de atividades desenvolvidas com os alunos, seus êxitos, dificuldades e, sobretudo, como o filme foi aproveitado. Percebi que poderia haver uma discussão prévia desses filmes. E se nos reuníssemos para pensar estratégias para utilizar os filmes em sala de aula? E mesmo compartilhar nossas compreensões da obra. Quem sabe, somando as percepções de cada um, não pudéssemos explorar melhor o potencial do cinema junto aos alunos. Esse insight foi o embrião para o que passei a chamar de Planejando com cinema.

O pontapé inicial do projeto se deu no Centro de Educação de Jovens e Adultos Joaquim Gomes Basílio, escola em que eu já desenvolvia desde 2009 o CineHistória, ou como chamamos também, Projeto História e Cinema. Dessa forma, essa atividade de planejamento está vinculada a montagem de estratégias didático-pedagógicas para a exploração dos filmes que eram usados com os alunos da EJA da modalidade presencial. Com o tempo, passei a me reunir com os demais professores da referida escola para que realizássemos sessões de cinema nos horários destinados aos planejamentos específicos da área de Ciências Humanas, com o intuito de produzirmos um material de apoio para o uso dos filmes que debatíamos. Eu mesmo usei em outra escola em que também lecionava os planos de atividade que elaboramos.

Passamos a escolher temáticas que, em nosso entendimento, acabavam por ser pouco contempladas no material didático, mas que possuíam um enorme potencial para promover a relação entre o passado e os problemas do tempo presente. Este foi o norte de várias das nossas reuniões. Procuramos também pautar nossos temas por acontecimentos que iriam ser explorados na mídia devido as efemérides, como por exemplo os 50 anos do início do regime militar no Brasil. Porém, já nesses primeiros momentos do projeto, procurei intercalar essas sessões em que debatíamos os filmes propriamente ditos, com debates em torno do uso desse recurso na escola, em especial nas aulas de História. Destaco aqui a exibição da série “Cinema e Educação” do programa Salto para o futuro, da TV Escola.

Nos últimos anos, venho sonhando com a ampliação deste grupo, pois enxergo nele um enorme potencial para melhorar a eficiência no uso de cinema na sala de aula, já que aprendemos mais quando vemos a partir de outros olhos. Desta feita, motivado pelo tema da minha pesquisa de mestrado, que investiga a apropriação das noções de tempo a partir dos filmes, convidei alguns colegas professores de História para darmos um primeiro passo no sentido de formarmos, em um futuro breve, um grupo de estudos e pesquisa sobre cinema e ensino de história.

O intuito desta seção do site é reportar nossos encontros e demonstrar como eles contribuem para que, coletivamente possamos fazer um uso construtivo desse recurso tão dinâmico que é o cinema. Muitos dos textos que serão publicados aqui no site, onde analiso como um determinado filme pode ser usado para o desenvolvimento do raciocínio histórico do aluno, são frutos desses encontros. Portanto, ao lado das minhas observações pessoais, encontram-se as percepções dos meus colegas, que contribuíram e contribuem para que eu possa enxergar melhor os filmes.

Professor Josemar.


janeiro 7, 2020

Os primeiros passos do projeto Planejando com cinema

Comentários
janeiro 7, 2020

A formação do grupo de estudos e pesquisas

Comentários
março 31, 2020

Temporada 2020

Reunião de abertura da temporada 2020 do Planejando com cinema.
abril 1, 2020

Seremos história

Planejando com cinema funcionará à distância. por enquanto. Novos tempos, novas demandas. Sigamos em frente!
julho 22, 2020

Cinema em tempos de EAD

Relato da reunião de julho de 2020 do grupo de estudos Planejando com cinema abordando os usos de filmes no ensino remoto.
parallax background

O autor


Caro leitor, meu nome é Josemar de Medeiros Cruz. Sou professor de História da rede pública de ensino do Estado do Ceará e também integro o quadro docente da Secretária de Educação do município de Brejo Santo. Coordeno o projeto História & Cinema há mais de dez anos, e além deste espaço, escrevo também para os blogs CineHistória e Chá com cinema.


 

Em caso de dúvidas, sugestões, ou quaisquer outras demandas cujo interesse for as temáticas tratadas aqui, podem entrar em contato comigo.

Comentários