Cinema e aprendizagem histórica na Educação de Jovens e Adultos
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A formação do grupo de estudos e pesquisas
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Os primeiros passos do projeto Planejando com cinema


Pretendo neste e no próximo texto, fazer um pequeno apanhado dos primeiros momentos do projeto Planejando com cinema, ou seja, como ele foi sendo desenvolvido até aqui, para que a posteriori, eu possa integrar mais organicamente cada uma das seções que compõem este site. Refiro-me aos textos incluídos nas abas “filmes”, “CineHistória” e Planejando com cinema”. Portanto, as obras discutidas nas sessões de planejamento serão analisadas e publicadas em forma de resenha e sugestão de uso didático-pedagógico; para que, na sequência, as atividades em sala de aula sejam reportadas na seção “CineHistória”.
 

Porém, como adiantei, meu desejo é expor, mesmo de maneira abreviada, o que temos feito, e como foi evoluindo nosso trabalho. Digo que ele nasceu da melhor forma que um projeto escolar pode ganhar vida: da observação inquieta e da vontade de ir além do convencional. E acima de tudo, de um misto de necessidade com oportunidade. Pela sua própria natureza, o Planejando com cinema não é uma atividade isolada, na verdade compõe um projeto escolar que já vinha sendo desenvolvido no Centro de Educação de Jovens e Adultos, o CEJA Joaquim Gomes Basílio, na cidade de Brejo Santo. Por isso, minha intenção aqui é explicar como as duas atividades foram sendo executadas paralelamente e como se complementam.

 

Em um primeiro momento, senti necessidade de uma maior integração entre os professores que faziam parte do Projeto História e Cinema na modalidade EJA presencial. Sendo assim, em seu começo a intenção era de fato a discussão de estratégias para exploração das temáticas suscitadas pelo filme escolhido como objeto de reflexão. Como os filmes exibidos eram os já sugeridos no material didático, cabia apenas uma ampliação da proposta suscitada por ele. Portanto, o objetivo era muito mais montar um organograma de execução das tarefas a partir do filme.

O Planejando com cinema começou de fato a ganhar corpo quando passamos a trabalhar o CineHistória a partir de eixos temáticos. Mesmo não se desgarrando completamente dos conteúdos do programa curricular dos alunos, percebemos que não haveria necessidade de segui-los pari passo. Poderíamos desenvolver uma atividade paralela com o uso de filmes que promovesse um diálogo com os conteúdos de Ciências Humanas na medida em que também pudesse contribuir para que os alunos conseguissem operá-los com mais competência. Nesse ponto, entendi que era hora do projeto Planejando com cinema tornar-se algo mais propositivo.

Para isso, propus a organização que acabou por perdurar nos anos seguintes. A ideia seria a de que a partir do instante em que definíssemos uma temática, que poderia ser para um semestre ou até para um biênio, partiríamos para a seleção dos filmes, a divisão do tema por eixos de reflexão e a montagem do cronograma de aplicação. Nesse caso, os professores diretamente envolvidos pertenciam ao quadro da modalidade EJA presencial. Porém, como mencionei no texto de apresentação da aba, nosso trabalho também envolveu estudos de fundamentação, em que nos dedicamos a debater o uso do cinema na escola.

Com o fim da modalidade presencial na escola em que trabalho, passamos a desenvolver o projeto com a EJA semipresencial, mas, acrescentando outro aspecto ao que já era feito. Percebemos que seria interessante, como resultado de nossos debates a partir dos filmes, produzir algumas sugestões que pudessem ser usadas por professores de outras instituições escolares, e não apenas do universo da Educação de Jovens e Adultos. Essas sugestões passaram a ser publicadas no blog do CineHistória. Nesse sentido, passamos a incluir temáticas que tradicionalmente não eram muito exploradas no material didáticos dos alunos, mas que poderiam levantar discussões interessantes, como fizemos com assuntos como o movimento tropicalista e as greves do ABC paulista no final da década de 1970. Esses dois temas fizeram parte de toda uma preparação para a temática desenvolvida em torno dos 50 anos do golpe civil-militar de 1964 no Brasil, conteúdo que foi discutido no ano posterior com os alunos da EJA, mas teve sua gestão nos encontros do planejando com cinema.

 

Se utilizarmos os debates sobre as greves do ABC como exemplo, para que produzíssemos o material que seria utilizado com os alunos, realizamos quatro encontros, sendo dois deles destinados a exibição e debate dos filmes “O ABC da greve”, de Leon Hirszman, e “peões”, de Eduardo Coutinho. Nos outros dois encontros, debatemos os textos que serviriam de material de apoio pedagógico e montamos uma proposta de trabalho com os alunos, tendo os filmes como eixos de discussão. De maneira semelhante operamos com o tema Tropicália, onde, para citar mais um exemplo concreto, além de assistirmos ao documentário “Tropicália”, de Marcelo Machado, elaboramos uma seleção musical que posteriormente foi publicada com sugestões de trabalho para outros professores.

Nesse caso, como procurei demonstrar, mesmo tendo nascido como uma atividade complementar ao Projeto CineHistória, o Planejando com cinema foi se mostrando uma oportunidade para congregar outras pessoas e instituições. Pois, ao invés de interagir com um determinado trabalho já existente, ele tinha potencial para se refletir sobre o uso de filmes no ensino de História em diversas outras modalidades, e que outros métodos e abordagens poderiam ser sugeridos se eu ampliasse o número de participantes, convidando outros professores. Pois um compartilhamento maior de ideias poderia gerar um trabalho muito mais eficiente.

É nessa direção que estou promovendo uma reformulação no projeto Planejando com cinema. A intenção é que ele se transforme num grupo de estudos e pesquisas que investigue a relação entre cinema, história e ensino de História, especialmente com o intuito de descobrir de que maneira o filme pode ser usado para permitir a apropriação das noções de tempo na aprendizagem histórica. É sobre isso que tratarei na próxima postagem.

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