O cinema é uma ferramenta de educação do olhar. Portanto, pode nos ensinar a aprender.



Sejam bem-vindos a esta viagem no tempo através do cinema!


Este site, assim como a temática que se propõe a discutir, tem a sua existência entrelaçada entre experiências e expectativas. Está imbuído de passados e futuros. Eis que me vejo agora com a missão de introduzir seu conteúdo. Mas pensemos bem; não seria a introdução de algo, já em si uma ponte entre passado e futuro? De algo que se planeja e enfim, concretiza-se naquilo que será mais à frente dito? E o que será lido, já não foi escrito? Onde e para quem o tempo é passado, presente ou futuro? Em verdade, escrevendo essas linhas, já não consigo separá-los, nem como expectativa, nem como experiência. Vou deixar, então, que todos os tempos apareçam como estratos dessa história, que ora começa, termina e se faz continuamente existir.



Como ferramenta educativa, este site é resultado direto da minha pesquisa de mestrado em Ensino de História, em que procurei demonstrar como o filme pode ser um meio para a apropriação das noções de tempo e temporalidade. A dificuldade dos alunos em operá-las é um dos grandes desafios a se enfrentar no processo de construção de uma educação histórica significativa, já que vivemos em um presente imerso em antecipações do futuro e usos do passado. Porém, a trajetória que levou ao surgimento desse ambiente de reflexão que une cinema, história e ensino de História, começou bem antes.

A pequena criança de sete anos olhando a primeira vez para um filme, maravilhado pelas imagens de um tempo tão distinto e distante, que contava a vida de um gladiador romano; o adolescente imberbe que ficou sem dormir à noite depois de assistir a história de um jovem que viaja ao passado em uma máquina do tempo; e o adulto que ficou em estado de choque ao pensar como a nossa percepção do tempo age para a compreensão da história, numa sessão de cinema na universidade, foi gradualmente enxergando com mais clareza que não aprendemos com o filme, e sim a partir do filme. Ele pode nos ensinar a pensar. Demorei, mas, enfim compreendi, que o que me fez apaixonado por história não foi o que os filmes mostravam, mas como mostravam; não era o que eles me diziam, mas o que me instigaram a descobrir. Eu já era professor de História quando realmente compreendi a dimensão dessa “descoberta”. Então, o que me restava fazer?

Nos últimos anos, venho dedicando esforços em propor o uso do filme como forma de desenvolver o raciocínio histórico dos alunos, que eu prefiro chamar de competência para pensar historicamente. Nesse sentido, mesmo galgados os primeiros passos, a contribuição dada pelas discussões e leituras sugeridas ao longo do mestrado foram substancialmente importantes, porque me permitiram, tanto a organização metodológica de execução da pesquisa, como a problematização das questões didático-pedagógicas, em especial responder a pergunta: como contribuir para o desenvolvimento do raciocínio histórico dos alunos a partir do uso de filmes? Todavia, gosto de pensar que a existência deste site intenciona ir além da sala de aula, falar para mais do que meus alunos, e abrigar aqui os companheiros de jornada, meus colegas professores. E quem sabe, um público ainda mais amplo que se interessa por história, pelo cinema, e pela relação tão próxima entre eles.


Acredito que exista um espaço público de produção de conhecimentos e, portanto, de aprendizagens históricas. O cinema é uma dessas várias mídias que não só “ensina”, mas instiga o espectador a enxergar o mundo, o tempo, a vida. Sendo assim, há mais de cem anos, ele influencia os acontecimentos, não apenas faz o registro deles. Mas infelizmente, ainda é subestimado. Afinal, o que é um século se comparado aos milênios da palavra escrita, que ainda reina soberana? No entanto, por caminhos bem diversos, o desenvolvimento de uma competência para a leitura do texto imagético, com seus signos próprios e maneiras particulares de articulá-los passa a ser uma preocupação, inclusive dos governos, como necessária e urgente no mundo cada vez mais preenchido por elas.

Felizmente, nessa caminhada, sempre reconheci fragilidades teóricas, que certamente me impediram de realizar com sucesso atividades que planejei. Reconheço que desperdicei oportunidades por defasagem de uma formação mais sólida que me desse o aporte necessário para avançar além de certa superficialidade que eu mesmo sempre rejeitei. Por não possuir uma bagagem de orientações que me permitissem repensar abordagens, suportes, e que, sobretudo, também forçasse a reeducação de meu olhar para o filme, para a História e para os alunos, senti que a continuidade da minha formação acadêmica iria contribuir para amenizar essa inquietação, que, tomara, nunca seja totalmente adormecida. Nesse sentido, a oportunidade de cursar o Mestrado em Ensino de História tornou possível unir experiência e expectativa, passado e futuro. Reconstruir, a partir daquilo que eu já fazia, minha prática docente, e em especial, o Projeto História e Cinema.

Entretanto, devo muito aos filmes que vi, e que me ajudaram ao longo desses anos a pensar melhor, e a ver o mundo e o tempo de forma diferente. Entre tantas obras que poderia ter citado aqui neste preâmbulo, fiz menção apenas a três experiências que, em fases distintas de minha vida, produziram saltos cognitivos. Se eu for enxergar meu hábito de assistir a filmes como um processo de formação, “Spartacus”, “De volta para o futuro” e “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”, respectivamente, correspondem ao meu Ensino Fundamental, Médio e Superior. Porém, já os vi muitas vezes, e os ressignifico a cada uma delas. Como disse o personagem de Bruce Willis no filme “Os doze macacos”, sempre vemos o mesmo filme de maneiras diferentes, porque somos pessoas diferentes. Sendo assim, não existe o tempo do filme, mas o tempo que se produz a partir daquilo que significamos ao ver o filme. Ele pode ser passado, presente e futuro, e porque não, tudo de uma só vez?

O tempo é algo tão complexo que geralmente o definimos pelo seu contrário, ou seja, é tempo o que não é para sempre. Ele é a duração, ou ao menos a forma como percebemos essa duração. E sem essa capacidade de percebê-lo, de representá-lo e de significá-lo, não podemos falar em história, ela mesma a própria narrativa da duração. O cinema é uma das formas que a humanidade usa para representar o tempo, e de nos fazer pensar sobre nossa condição de seres que vivem no tempo, e que fazem dessa condição temporal, o próprio sentido de suas existências.

Convido a todos os futuros leitores e colaboradores deste site, a encontrarmos uma forma de fazer uso do filme com o intuito de construir um raciocínio histórico. Aos professores, especialmente, cerremos fileiras contra uma visão já deveras retrógrada, que encara o cinema como uma versão imperfeita da realidade. Ao público em geral, que pretende simplesmente dialogar com os textos que aqui serão publicados, espero que possamos nos lançar na arena onde se travam as batalhas mais instigantes, permitamo-nos aprender a pensar... historicamente. Por isso, seguiremos muitas direções. No entanto, uma coisa eu garanto, como diria o Dr. Emmett Brown, “para onde vamos... não precisamos de estradas!”

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O autor


Caro leitor, meu nome é Josemar de Medeiros Cruz. Sou professor de História da rede pública de ensino do Estado do Ceará e também integro o quadro docente da Secretária de Educação do município de Brejo Santo. Coordeno o projeto História & Cinema há mais de dez anos, e além deste espaço, escrevo também para os blogs CineHistória e Chá com cinema.


 

Em caso de dúvidas, sugestões, ou quaisquer outras demandas cujo interesse for as temáticas tratadas aqui, podem entrar em contato comigo.

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