Barbosa
julho 16, 2020
Anatomia do tempo
julho 24, 2020
 

Cinema em tempos de EAD


Continuamos em isolamento social. Mas, como já havia relatado na coluna anterior dessa seção, resolvemos não parar as atividades do grupo de estudos “Planejando com cinema”. Em mais uma reunião “virtual”, dessa vez discutimos as possibilidades de utilização de filmes na modalidade EAD. Em verdade, esse foi apenas o início de um ciclo de debates sobre esse tema, já que, diante da realidade que estamos enfrentando, algumas práticas atuais devem se manter para além dos tempos de pandemia. Assim, tendo como norte uma abordagem que favoreça uma aprendizagem ativa por parte do aluno, além da própria dinâmica do ensino híbrido, propus para esse encontro uma discussão em torno do filme “Barbosa”, objeto sobre o qual nos debruçamos.
 

Embora não tenha sido a razão para a escolha do filme, o fato é que há uma grande coincidência envolvendo sua temporalidade. O fatídico jogo entre Brasil e Uruguai na rodada final da Copa do mundo de 1950 está completando exatos 70 anos nesta semana. O que acaba servindo como gatilho para uma série de reflexões a partir da relação entre esporte, especialmente o futebol, e a sociedade brasileira. O fato é que a maioria de nós está trabalhando em sala de aula com a transição da Era Vargas para o governo Dutra, que é o pano de fundo histórico do enredo, e isso foi o que me levou a propor o curta-metragem dirigido por Ana Luíza Azevedo e Jorge Furtado.

Como a intenção do grupo é discutir os usos de filmes nas aulas de Ciências Humanas, com foco nas questões que envolvem especialmente as categorias de tempo e espaço, a ideia foi pensar alternativas para este momento específico, e que, no universo escolar, caracteriza-se pelo atendimento à distância. Isso nos conduziu naturalmente à pergunta: como inserir os filmes nesse processo? Respondê-la requer definir duas condições: a abordagem pedagógica e a forma de acesso dos alunos a esses filmes.

Sobre essa última questão, lembramos que hoje a maioria de nós assiste a filmes através de plataformas de streaming. Porém, nem todos os alunos são assinantes dessas plataformas, embora, de modo geral, eles tenham acesso à internet. A opção, então, é o uso da plataforma Youtube, que permite a visualização gratuita de praticamente todo o conteúdo lá hospedado. Mesmo assim, é preciso considerar que os alunos estão tendo que atender a uma carga de atividades nesses ambientes digitais, o que certamente dificulta o trabalho com filmes em longa-metragem, que, inclusive, acabam por consumir mais tempo de conexão.

Esse foi o segundo ponto que definimos: trabalhar com curtas-metragens. Como suporte e orientação pedagógica, foi sugerido que todos realizassem um cadastro no site “Porta Curtas”, já que ele disponibiliza um excelente acervo de filmes organizados por temas e envolvendo todos os componentes curriculares, na aba “Curta na escola” . Além disso, essa plataforma disponibiliza muitos planos de aula já elaborados, que podem servir de base para adaptações de acordo com a faixa-etária e outras demandas específicas de cada professor.

 

No que se refere a abordagem pedagógica, nossa intenção é reforçar o caráter de educação híbrida, que de alguma maneira já é inerente ao uso de recursos audiovisuais na sala de aula, e agora contemplado pelo caráter de ensino na modalidade EAD; e prezar pelo foco na participação ativa do aluno, invertendo assim o modelo tradicional de ensino. Fizemos essa discussão ainda de forma preliminar, já que em outros encontros isso será aprofundado. O que será feito através de leituras que foram, ao longo do debate, sendo sugeridas. Nos futuros encontros abriremos espaço para socializá-las.

Bem, de fato, a partir dessas discussões iniciais, nosso “encontro virtual” focou a atenção no debate sobre filme “Barbosa”. Cada um dos membros do grupo teve um tempo de fala para expor suas observações, com o objetivo de fornecer subsídios, pontos de vista e sugestões para o uso do filme nas atividades com os alunos. Após a primeira rodada, abrimos espaço para comentários sobre as impressões dos colegas, tentando criar uma experiência coletiva que resultasse numa gama mais robusta de ideias para um posterior trabalho pedagógico. Embora já devamos dar início a aplicação dessas ideias no próximo mês, creio que seja possível pensar em um projeto bem mais amplo para o próximo ano, dadas as inúmeras alternativas que foram por nós suscitadas.

O objetivo dessa seção do site não é pormenorizar o teor do debate, já que há dois espaços aqui que ocupam essa função. O texto publicado na seção Filmes, com o título de “A máquina de escrever o tempo”, apresenta um artigo que escrevi sobre “Barbosa”, e está nele contido muitas das ideias que surgiram no encontro que acima mencionei. Quem se dispor a ler o texto, perceberá que ele é estruturado em três partes, sendo a última delas especialmente destinada ao desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar. Logo após realizada a atividade com os alunos, publicarei um resumo na seção CineHistória. E quem quiser conhecer um pouco mais sobre o livro que inspirou a realização do filme, “Anatomia de uma derrota”, de Paulo Perdigão, há uma resenha dele também publicada aqui no site, na seção Textos e Telas, com o título “Anatomia do tempo”.

Como sempre ressalto, meu objetivo ao relatar essa experiência do grupo “Planejando com cinema” é instigar atividades semelhantes, que possam levar a um uso mais eficiente e abrangente do cinema na educação. Bons filmes, boas leituras, boas aulas e até a próxima!

 
Comentários