Segundo uma aluna, essas coisas vão continuar acontecendo no futuro. O que o filme fez foi mostrar a repetição da exploração, e que essas coisas provavelmente vão continuar existindo. Já outro aluno achou que o filme foi feito para mostrar que quando as pessoas reagem, podem mudar o mundo, pois os índios que lutaram pela água, conseguiram expulsar a empresa e puderam ter a água mais barata. A partir daí, enveredamos o debate para esse aspecto. O filme, dessa forma, também estava relacionado com o futuro porque ele serve de alerta. Reforçando a colocação anterior, para o mesmo aluno as pessoas deveriam se preocupar com a questão da água, e que guerras podem até acontecer por causa disso. Pois assim como houve muitos conflitos por causa do ouro, agora e no futuro seria pela água, como se a água fosse o ouro da vez.
Percebi que havia uma salutar dificuldade em definir a predominância do tempo na narrativa. Então perguntei: “na opinião de vocês, a diretora do filme quis falar sobre que evento principalmente, a Guerra da água ou a colonização da América?” Sintetizando as respostas, os alunos entenderam que o filme procurou fazer uma comparação entre esses dois fatos, e de alguma forma, também falar sobre o que poderia acontecer no futuro com base naquilo que aconteceu no passado. Prontamente, foi colocado que no filme os bolivianos conseguiram impedir a empresa de explorar a água, o que supõe a ideia de que podemos mudar o futuro. O que nesse caso seria uma permanência. Então, perguntei: quais as outras mudanças e permanências observadas no filme?
Foram várias as situações percebidas, destacando especialmente as permanências, como no caso dos índios que serviam aos colonizadores e agora serviram as mesas nos restaurantes. Também o fato de, como na época dos primeiros contatos com os colonizadores, nada era perguntado aos índios, como no momento em que estão fazendo o filme. Não queriam saber se era daquela forma que queriam ser retratados. Como foi lembrado por um dos participantes, não tinham perguntado também ais índios se eles tinham religião.
Questionei por que aparentemente foi bem mais fácil para eles perceberem as permanências e não tanto as alteridades entre as duas épocas mostradas no filme. Houve uma certa ênfase na resposta, onde procuraram demonstrar que, de fato muita coisa mudou mesmo, mas no que se refere a situação dos índios, não havia tanta mudança. Procurei levantar outro debate importante, que envolve o letramento histórico. Talvez o interesse dos produtores do filme, salientei, fosse justamente passar essa impressão, pois isso se encaixa com a proposta do enredo. É preciso estar atento as comparações, e como essas comparações são feitas quando lemos um texto de história, ou assistimos a um filme, pois há uma intenção de que entendamos as coisas de uma certa maneira.
Para um dos alunos, a grande diferença entre as duas situações mostradas no filme foi a vitória dos índios na questão que envolveu o aumento do preço da água, como se, segundo ele, os índios não fossem mais ingênuos. Procurei salientar que tal situação poderia ser entendida como uma singularidade, pois o fato de saberem o que aconteceu antes, tornam-nos diferentes dos outros. Pois essa consciência pode direcionar nossas ações. Mas que devemos ter cuidado quando baseamos nossa opinião apenas nas informações que nos são fornecidas por um dos envolvidos. A maior parte do conhecimento que temos sobre os índios que viviam na América no período da colonização foram produzidas pelos colonizadores. Então, essa visão de índios preguiçosos ou ingênuos é resultado da forma como estudamos o seu passado.