É claro que o professor precisa levar em consideração uma série de pormenores no momento em que for escolher o filme que servirá a sua finalidade didático-pedagógica. Entre eles, a faixa-etária dos estudantes. Neste caso, é mais que natural que procure selecionar títulos que produzam um efeito mais lúdico quando se tratar de alunos que frequentam os primeiros anos do Ensino Fundamental; do mesmo modo, pode arriscar obras um pouco mais densas para um público quase adulto do terceiro ano do Ensino Médio. O dilema entre filmes mais “fáceis” ou que apresentem mais dificuldade de compreensão, não me parece de forma alguma excluir a possibilidade de que utilizemos obras dos mais variados períodos do cinema.
O uso de um filme de décadas passadas pode ser uma estratégia para mexer com a maneira do aluno operar as noções de tempo e sua representação. Uma filmagem realizada na década de 50, por exemplo, pode permitir ao docente propor não só uma leitura da época retratada nele, mas como esta dialoga com eventos anteriores e atuais. É bem comum, admito, que os alunos apresentem uma rejeição inicial a ideia de assistir a um filme “antigo”, mas esse comportamento também pode ser problematizado. Afinal, convenhamos, isso não é uma exclusividade deles, pois é bem comum que a maioria das pessoas que veem filmes com certa frequência, apreciar apenas os lançados recentemente.
Bem, numa das memoráveis sessões do projeto História e Cinema na educação de Jovens e Adultos, reuni os alunos para que assistíssemos ao filme, cujo título revelei apenas no instante da exibição, dizendo que se tratava de uma obra de 1936. Como esperava, a reação foi bastante negativa, com alguns dos presentes ameaçando ir para casa, pois não queriam ver “filme mudo em preto e branco”. Depois de alguns minutos de argumentação, consegui convencê-los a ficar e ver o filme. Ao final da exibição e do debate, esses mesmos alunos me procuraram para dizer que “Tempos modernos” havia sido o melhor filme que eles haviam visto e que aprenderam muitas coisas com ele. Na verdade, imagino que o mais importante que eles tenham aprendido tenha sido justamente não subestimarem a qualidade de um filme pela época em que foi produzido. É preciso que nós professores pensemos nisso também.
Por isso, nessa postagem da seção Textos e telas, quero falar sobre a importância de nós conhecermos mais a história do cinema. Como disse no início, não é uma condição sine qua non, que nos tornemos especialistas no assunto, mas um conhecimento básico dos períodos, dos movimentos e dos personagens que construíram a sétima arte é fundamental para escaparmos de uma visão turva que atribui aos tempos mais “remotos” do cinema uma condição de pré-história das imagens. Portanto, como em outras postagens eu tratarei de livros que digam respeito mais especialmente a linguagem do cinema, o intuito aqui é sugerir a leitura de uma obra que em suas pouco mais de quinhentas páginas, passa a limpo a história dos filmes.
A experiência da leitura do livro pode ser aumentada se quisermos, como aliás eu procurei fazer, concomitantemente assistirmos a série “A história do cinema: uma odisseia”, lançada em DVD no Brasil). Como foi escrita e dirigida pelo mesmo autor do livro, cada episódio corresponde exatamente ao texto dos capítulos, o que acaba servindo para “dar vida” aquilo que vamos lendo. Já que se trata de cinema, nada melhor do que podermos ver aquilo que está sendo descrito na versão em papel, embora a série não se preste a ser apenas uma ilustração.
Acrescento algo que considero de fundamental importância, não só para acompanhar este livro, mas todos os outros que vou aqui sugerir através dessa seção: é preciso ver os filmes que são apresentados e analisados nos livros. Mesmo que não tenhamos tempo, nem oportunidade de assistir a todos os filmes, já que são mencionados centenas deles, alguns recebem destaque especial, e acabam sendo vistos como sínteses da obra de um diretor e/ou movimento. Nesse caso, por exemplo, ao ler sobre a Nouvelle Vague, Expressionismo alemão ou Cinema Novo no Brasil, é muito importante selecionar algumas produções marcantes de cada uma dessas cenas, e analisá-las. Isso torna a experiência muito mais proveitosa. Posto que há pouca valia apenas nos informar sobre a existência desses filmes e não usufruir do impacto que eles causam em nossa forma de enxergar o cinema. Caso consigam fazer isso, verão que se produzirá um círculo virtuoso. Assistir aos filmes citados nos livros torna a experiência da leitura mais completa; da mesma forma que procurar conhecer mais sobre a história dos filmes, amplia o aprendizado proporcionado pelo hábito de vê-los.