Assim como na modalidade presencial da EJA, o trabalho que desenvolvi e que agora relatarei, partiu de um projeto à médio prazo, já que se estendeu por dois anos, envolvendo quatro salas do nono ano, em que, nos anos de 2015 e 2016, coordenei o projeto Cinema e história contemporânea, que tinha entre outros objetivos, promover um estudo da história que envolvesse o contato com outras fontes e linguagens. Além disso, pudesse instigar os alunos, através de um estudo comparativo entre o conteúdo apresentado no livro didático e nos enredos de cinema, a percepção de como se dá a construção das narrativas, sobretudo despertando neles a compreensão do próprio fazer histórico, especialmente no que se refere a produção de sentidos sobre o passado.
Já naquele momento, procurando explorar aquilo que posteriormente seria o foco da minha pesquisa de mestrado, ou seja, a compreensão e apropriação das categorias e noções de tempo, procurei fomentar nos alunos a necessidade de observar nas fontes cinematográficas a sua relação com o tempo da produção das obras, como elas dialogavam com as demandas do presente que as criou, e como esse tempo “conversava” com o conteúdo que estava sendo representado. Para isso, sobre um mesmo tema, a ideia foi apresentar diferentes formas de narrativas a partir de filmes realizados em décadas distintas, e acabamos por fazer um recorte temporal que privilegiou os últimos setenta anos, ou seja, a partir dos eventos relativos a Segunda Guerra Mundial, já que existe uma gama muito maior de obras que abordam esse período.
Um aspecto importante da abordagem que usei, foi ter dedicado alguns momentos a discussões sobre a produção de filmes sobre com históricos. É uma convicção minha, embora pautado nas ideias sobre letramento histórico de Peter Lee, que ao estudante não basta saber o que aconteceu, pois para compreender o passado, é importante entender como se produz um conhecimento sobre ele. Nesse sentido, procurando evitar que a aula se pautasse por uma reflexão teórica mais abstrata, preocupei-me em demonstrar aos alunos de que maneira podemos utilizar o filme para observar como se constitui um discurso sobre a história, e que o fato histórico existe em função de um objetivo de preservação do evento, que por natureza, está relacionado a interesses do presente.
Acredito que essas discussões se fizeram necessárias porque, nessa experiência em particular, nenhum dos filmes foi exibido integralmente em sala de aula. Sendo assim, creio já ser a hora de explicar como essa dinâmica se processou. Já que as temáticas citadas acima geralmente são posicionadas na parte final do livro didático, o projeto teve sua culminância no segundo semestre letivo de cada ano. Antes, portanto, de encerrarmos o primeiro período, as turmas eram divididas, e cada equipe recebia alguns filmes sobre o conteúdo que havia ficado sob sua responsabilidade estudar. Temas como Guerra Fria, permitiu-nos a escolha de vários filmes que abordavam direta ou indiretamente o conflito.
Nosso objetivo durante o segundo semestre foi estudar cada um desses conteúdos a partir de uma perspectiva comparada, ou seja, debateríamos as informações presentes no material didático; porém, a equipe responsável por determinado tema, teria como missão fazer uma montagem com as cenas e/ou sequências dos filmes que nos permitissem estabelecer uma analogia entre a maneira como o livro narrava os eventos e como os filmes os representavam. No entanto, o objetivo dessa “comparação” era principalmente ressaltar as diferenças de abordagens e de como cada uma delas produz uma determinada compreensão sobre os fatos.
Pois como foi ressaltado pelos alunos, ver as imagens provoca um impacto diferente. Segundo suas palavras, reforçava a ideia de que as coisas realmente teriam acontecido. Entretanto, o mais significativo foi perceber que eles se atentaram para a existência de várias maneiras de narrar o passado, e que isto está relacionado não só ao suporte de apresentação das informações, mas ao que se deseja dizer e para quem. Além disso, é muito interessante como a utilização de filmes como Rocky IV (1985), associado geralmente ao mero entretenimento, instigou os estudantes a compreenderem como um filme também é uma ferramenta de propagação de ideias, o que me permite dizer que avançamos um degrau no sentido de um letramento das imagens em sala de aula.